domingo, 6 de março de 2011

AMNÉSIA, DEFICIÊNCIA OU ENCANTAMENTO


A imprensa porca

 
Manoel Fernandes Gonçalves Filho

Amnésia é caracterizada como a perda de memória. Mas, sabemos que existem no universo do ser humano outras deficiências, algumas mais graves do que outras. Há a deficiência visual, a deficiência auditiva entre tantas outras. Uma coisa tem me deixado intrigado nos últimos meses, e por isso mesmo resolvi compartilhar com a comunidade do meu querido e saqueado Amapá. Trata-se do processo de Amnésia a que todos, isso mesmo, T – O-D-O-S os órgãos de imprensa do Estado do Amapá foram submetidos, ou se submeteram, nos últimos oito anos.
 É interessante, mas nos últimos anos a imprensa do Amapá ficou muda, cega, e imóvel, como se tivesse sido envenenada por algum animal peçonhento, ou quem sabe encantada por algum ser sobrenatural. O que posso afirmar é que durante oito consecutivos anos se ligava o aparelho de TV no noticiário Local, em todas as emissoras, as notícias pareciam receita de bolo da vovó, todas bastante conhecidas. Era treinamento do BOPE, outras eram de inauguração de Escolas, outras de Palestras e para não ficar muito sem graça, vez ou outra uma prisão ou mesmo um assassinato de alguns pobres coitados.
 Nos Jornais a história também não era diferente, com um pequeno detalhe uma dose exagerada subserviência, alias marca registrada de todos os veículos impressos neste nebuloso período. Quando se fala nos programas de Rádio a coisa fica pior, aqui nossos radialistas sofreram todos do mesmo encantamento. As pessoas que procuravam esses veículos para denunciar a falta de medicamentos nos hospitais, o não comparecimento de médicos, embora os mesmos continuassem a receber seus vencimentos adicionados dos plantões, em casa é claro, não eram sequer ouvidas. A nossa imprensa sofreu de uma profunda deficiência.
A sociedade amapaense passou oito consecutivos anos sem nenhum veículo de comunicação verdadeiro, imparcial. Alias, agora começo a imaginar o tipo de encantamento a que todos os órgãos de impressa do Estado do Amapá estavam sofrendo. O Encantamento da Parcialidade. Foi necessário que A morte de inúmeras crianças em nossa maternidade fosse anunciada em cadeia Nacional, para que o resto da sociedade amapaense tomasse conhecimento do fato. Que vergonha. Em que lugar estavam nossos repórteres, radialistas, onde estavam rádio, jornal, televisão. Só tenho uma coisa a dizer – que vergonha.

O mais interessante é que passados oito anos, finalmente como num passe de mágica o encantamento foi quebrado. Como num passe de mágica a imprensa começa a enxergar Postos sem médicos e medicamentos, começa a ver as filas intermináveis durante as madrugadas, e o sofrimento de nossos irmãos mais necessitados.
Começa a verificar professores que sequer comparecem às escolas, ou que não têm compromisso nenhum com a educação das crianças. A imprensa, de repente começou a ver ruas que não foram asfaltadas, bairros que estão submersos em função das chuvas e da inércia dos poderes públicos nos últimos oito anos.  Que bom que o encantamento foi quebrado, que, acredite se quiser, a imprensa amapaense se curou, ou pelo menos melhorou dessas deficiências. È mas deixa eu tirar meus peixes da malhadeira, se não traira vem e come.  Manoel Gonçalves Filho